por Delano Mothé.
Meu pai me faltou desde a fecundação.
De lá p’ra cá tive amputado de mim
tudo que nele não pude espelhar.
A vida de filho que me foi furtada
ocupa um buraco ainda sem fundo em minh'alma.
Essa metade que me falta
mais e mais urge
por fazer parte no meu meio-eu.
Trar-ma-ão mãos masculinas
do mais doce afeto imbuídas?…
A velha senhora dentro de mim
se opõe ao menino de colo,
órfão desde a semente.
Preciso de um pai p’ra esta criança,
que, forjado em meu próprio coração,
a acolha com sua presença,
a envolva de carinho,
a replete de tanta ternura (*).
Assim nascerá o homem que,
beijando minha senhora na testa,
como a uma rosa de pétalas frouxas,
desfará o feitiço-carma.
Então, as rugas cederão lugar ao veludo,
as sombras pálidas, a luminosas cores,
e o que era disforme se moldará na beleza das fadas.
Daquela senhora, bela mulher desabrocha.
E seu benfeitor encantado a desposa.
Enfim,
homem e mulher na medida certa
e em paz dentro de mim.
E serei feliz inteiro,
p’ra sempre…
[Composição de 14 de fevereiro de 1998, com leves acréscimos e alterações atuais – em 18/02/10, apenas nos quatro versos precedentes ao asterisco (*) –, de modo a adaptá-la à perspectiva madura e otimista, profunda e abrangente, propiciada pela Escola Salto-Quantista de Pensamento Espiritual-Cristão.]