por Delano Mothé
Duas mortes me assaltaram
de uma só vez:
e me violentaram a ingenuidade
e me sequestraram a inocência
no pouco que ainda me havia restado…
– Prelibar da verdadeira pureza.
Mais um luto
e desta vez duplo.
Não reluto
enterro tudo
e me des-iludo:
necessária é a chacina
ou a faxina!…
– Prenúncio de parto novo.
Declaro estado de calamidade privada
no que tenho de público.
A alteridade é inacessível ao ego:
‘causa mortis’ primeira
neste holocausto afetivo.
É que o ser idealista está disposto
a tantos óbitos quantas forem as imperfeições.
Inevitável algoz-redentor de si mesmo
na flama bendita de se integrar…
– Germinar do amor indistinto
entre os escombros do exclusivismo.
Queria talvez desejar a imperfeição
soprar as velas e me retirar deste velório
não me importar com o que jaz neste jazigo
mas a morte é fertilíssima semente:
dos seus frutos, quero o sumo todo;
da sua flor, o pólen que fertiliza o novo…
– Incubação e renascimento.
Atravessam-se vários cemitérios
até a imortalidade.
E a “filomortalidade” é a senha
sem a qual não se descerram
os portões dessas necrópoles…
– Transpondo a fisicidade
para o império do espírito
no esplendor da ressurreição.
Aqui jaz um poema
que não pretende
descansar em suas cinzas
mas alçar voo reticente…
muito além deste
ponto final.
(Poema composto originalmente em 13 de fevereiro de 1998, com as devidas adaptações e aprimoramentos conceituais, de 24 de junho de 2010, propiciados por nossa sagrada Escola Espiritual-Cristã de Sabedoria e Felicidade.)