Por Delano Mothé.

Ostracismo – Deserto Existencial.

Invólucro hermético
cela do eu
convívio de cascas
domínio do meu
mar de conchas
dispersas no breu…

(Dezembro de 1998.)


OVNI – Extroversão pelo Umbigo, Rumo à Alteridade…

Estou dependente sim
vulnerável no grau máximo da paixão
um poço sem fundo de desejos
desenfreados na contramão da censura
fragilidade que só tem cura
na entorpecente fumaça
que sobe do choque
fenômeno “climatorgânico”:
de arder no coração labaredas
e pulsar de geleiras no estômago.

(27 de fevereiro de 1998.)


Mundo Anoréxico – Incubação e Autofagia
.

Estou farto de tudo
e morro ainda de fome.
O cardápio que se me apresenta
em nada me apetece.
Quero o prato mais exótico
temperado ao sabor da gula
degustar-me em cada fibra
fazer mexido do meu mundo.

(Fevereiro de 1998.)


Dias Morosos – Parto Emergente
.

Nunca tive vontade de logo ler
a última página de livro qualquer.

No entanto, a avidez do desejo
de antecipar o fim ao começo
foi me dar justo na história
em que o revelado é a memória
de cada folha passando lenta
e cuja ideia final nem se aventa:

Minha vida em disparada…

(28 de fevereiro de 1998.)


Vou Ver – Dialética do Desapego
.

Quem se envolve
se desenvolve,
se o envolvimento
sabe volver
no des-envolver-se.

(Fevereiro de 1998.)


Mínimas – Ensaios para o Despertar
.

O chão desabou sobre minha cabeça.

Amadurecer me é intransitivo.

De não em não, positiva-se o indivíduo.

Não sou eu quem escreve, mas a dor de não me ver no silêncio.

(Fevereiro de 1998.)


Enraizado – Saturação e Gênese da Autopoiese
.

Leva-me em passos ébrios
a rumos alguns entrevistos
por vezes outrora queridos
impostos e aceitos com o tempo.

Lesa-me o bom livre-arbítrio
obstando o sopro divino
ao léu da cegueira esquecido
desfeito e levado ao vento.

Nega-me o prazer do convívio
com o novo de dor imbuído
em troca, a angústia do rito
de malbaratar cada intento.

Leva-me, lesa-me, nega-me…
Até quando deixar que o medo
perversor do ensejo em avesso
me pare, me cale, me mate?…

(5 de novembro de 1991.)


(Os poemas reunidos nesta coletânea, embora compostos nos já remotos anos de 1991 e 1998, sofreram atualmente substanciais adaptações e aprimoramentos conceituais, propiciados pela misericordiosa inspiração dos Mentores Espirituais de nossa Escola Espiritual-Cristã de Sabedoria e Felicidade. Renovamos, mais uma vez e sempre, nossa eterna gratidão àquele que nos abre as Portas Celestiais, nosso Professor-Médium-Sacerdote encarnado Benjamin Teixeira de Aguiar, por seu perseverante ministério de amor e serviço ao Bem comum, assim como pelos estímulos fraternos que nos dedica, generosa e diuturnamente, no sentido de nossa melhoria pessoal em todos os campos existenciais.)

(*) Para ouvir o “Ensaio de Interpretação” em torno dos poemas desta publicação, gravação de Benjamin de Aguiar, clique aqui.