por Delano Mothé
Vida é propósito.
O que nos garante a perfeita funcionalidade homeostática do veículo físico que utilizamos, por longos anos, desde a fecundação?… E, por outro lado, o que há por detrás de todas as disfunções orgânicas a que estamos sujeitos, com diversos e constantes ataques invisíveis à saúde do vaso de carne que provisoriamente nos serve de instrumento de manifestação no plano material de existência?
Como entender a sublimidade do concerto cósmico, em harmonia imponderavelmente indefectível, com uma infinidade de corpos e fenômenos celestes de todo imperscrutáveis à capacidade de avaliação e percepção humanas, a gravitarem seguramente pelo sem-bordas do espaço sideral?… E, de reversa maneira, como compreender o aparente quadro de desordem e quase caos, à nossa volta, com tanta miséria, violência e catástrofes naturais, a atordoarem os sentidos de quantos se atenham aos estreitos parâmetros de observação imediatista e superficial da realidade?
O que pensar da beleza mimosa e delicada das asas de uma borboleta ou de um beija-flor, em pleno voo? Ou, mais ainda, da ternura concretíssima que nos aquece os corações, consagrada aos entes mais amados, a nos preencher a alma de sentido para viver?…
Todas as respostas se encontram nos Fluxos de Graça e Abundância Divinais, infinita e exponencialmente progressivas, ainda que aparentemente travestidas de desgraças, nos imprescindíveis ciclos de destruição para renovação da Vida, em seus imperativos de plenipotência, em todos os sentidos.
Nos meandros de todos os eventos e contextos existenciais, encontraremos os fundamentos da própria Vida, vibrando pujante e impulsionando-se à transcendência indefinidamente, rumo às Alturas. Viver, verdadeiramente, é buscar propósitos sempre mais subidos a que se devotar… é um desfilar interminável de finalidades a se concretizarem… cada vez mais elevadas, ditosas, plenificantes!…
O elétron que pulsa incessantemente no “vácuo quântico”, em torno do núcleo atômico, não aparece e desaparece ao prazer do acaso, mas atende a uma meta maior, ainda que por ora insondável à ciência humana…
As moléculas que se formam, por toda parte, também cumprem uma perfeita programação, sem o que se fariam, quando muito, meros amontoados disformes de matéria aglutinada em completa desordem…
Os organismos de todas as ordens, sujeitando-se igualmente a impulsos e finalidades superiores, buscam complexificar-se “ad infinitum”, a despeito de contrariarem o instinto básico de preservação da vida – como é sabido, seres mais simples, quais os unicelulares, têm muito maiores chances de se perpetuarem, na escala filogenética das espécies.
Em tudo, o poder do espírito, o princípio inteligente, que rege todos os fenômenos existenciais, que molda a matéria conforme os fins a que se destina, na ascensão “ad eternum” ao Ser Sempiterno, Perfeita Inteligência, Supremo Amor.
Viver é transcender…
Persigamos, com perseverança inamovível e prioridade máxima, os propósitos mais altos, aqueles voltados ao bem comum, que nos enobrecem o espírito e favorecem todos os demais, e não os restritos ao âmbito acanhadíssimo do interesse puramente pessoal, que, se entronizados em detrimento dos primeiros, nos envilecem, vampirizam e ressecam a alma, como um grave alerta a que, quanto antes, nos desapeguemos de nossas ilusões, revejamos a ordem do que nos seja essencial e nos voltemos à rota que nos pode de fato felicitar, indicada pela Vontade Divinal, que ressoa em nossa própria consciência. Não propomos, com isso, que se mutilem os reclamos menos nobres e desejáveis da própria psique, mas que se lhes deem cidadania e vazão, nos estritos limites do necessário e pelos canais construtivos que redundem em melhor disposição de realizar e servir sempre mais ao bem geral.
Atentemo-nos, ademais, para os escopos existenciais que reflitam nossos próprios anseios, de dentro para fora, como uma expressão de nossa busca pessoal e consciente pelo melhor para todos, em lugar daqueles que se nos imponham, de fora para dentro, como injunções de toda sorte, mais comuns do que se imaginam, provindas do próprio seio familiar, amical, profissional, religioso, social…
Por fim, lembremo-nos de que o propósito último de todas as criaturas é a completude, junto ao Criador – Esta, a Busca Espiritual por Excelência. Todavia, qualquer intento que nos absorva os esforços e nos consuma o precioso tempo sobre o orbe, em planificações e empenho diuturnos, pode representar um aspecto deste Desígnio Máximo, se sacralizado pela bondade e genuína doação de nós mesmos, do íntimo de nossos corações.
A cada um cabe a decisão por limitar os próprios horizontes, castrando a divindade jazente no imo de si mesmo, sepultando a consciência um pouco todos os dias, para encarcerar-se a parâmetros existenciais atreitos ao ego, em torno de objetivos mais imediatos, passageiros, fadados à morte, mortos desde já… ou, ao contrário, voltar os olhos para a Eternidade, a fim de que, todos unidos, nos compenetremos do sagrado de cada instante, a anunciar-nos a Boa Nova de que seremos Cristos plenamente um dia(!) – já nos detivemos a ponderar na gravidade desta Divina Fatalidade, não importando quão distantes estejamos desta Excelsa Destinação?!… O Cristo-interior desperta a pouco e pouco, no âmago de todos nós, desvendando-nos universos sem-limites de possibilidades de realização e bem-aventurança, por mercê da Misericórdia Celeste, que nos arrebata paulatinamente, para a Glória de Seu Amor Incondicional, e nos reserva, desde sempre, a mais perfeita felicidade, pois que “nenhum fio de cabelo jamais caiu de nossa cabeça, sem que Deus o soubesse”… o permitisse… o incluísse em Seus Soberanos Propósitos de Vida Imorredoura… (*2)
(Texto redigido por inspiração dos Bons Espíritos, em julho/agosto de 2010. Eventuais falhas ou impropriedades aqui encontráveis correm, obviamente, por conta das limitações do canal utilizado – este servidor em Cristo que ora lhes fala –, o mesmo se aplicando aos demais artigos ou poemas de nossa lavra, já trazidos a lume neste Blog.)
(*1) Menção aos versículos 19-21 e 25-34 do capítulo 6º do Evangelho de Mateus, ínsitos no capítulo XXV, item 6º, de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, intitulado “Olhai os Pássaros do Céu”, das mais emocionantes passagens bíblicas, a nosso ver – tomamos a liberdade de transcrevê-la, ao final.
(* 2) Referência livre a versículos evangélicos de Mateus e Lucas: “E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mateus 10: 30 e Lucas 12: 7); “Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça” (Lucas 21: 18).
“Olhai os Pássaros do Céu
Não acumuleis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os comem e onde os ladrões os desenterram e roubam; acumulai tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem os vermes os comem; porque, onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração.
Eis por que vos digo: Não vos inquieteis por saber onde achareis o que comer para sustento da vossa vida, nem de onde tirareis veste para cobrir o vosso corpo. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?
Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, não guardam em celeiros; mas vosso Pai celestial os alimenta. Não valeis muito mais do que eles? – e qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar de um côvado a sua estatura?
Por que, também, vos inquietais pelo vestuário? Olhai como crescem os lírios dos campos; não trabalham, nem fiam; entretanto, eu vos declaro que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus tem cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que existe hoje e amanhã será lançada na fornalha, quanto maior cuidado não terá em vos vestir, ó homens de pouca fé!
Não vos inquieteis, pois dizendo: Que comeremos? Ou: que beberemos? Ou: com que nos vestiremos? – como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidade delas.
Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. Assim, pois, não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal.”